Em mais um dia quente no Rio de Janeiro, o Angra Fest 2018 desembarca na Cidade Maravilhosa muito bem acompanhado: além do grupo, como suporte foram escaladas as bandas Tuatha de Danann (MG) e Massacration (RJ) para compor a festa. E essa festa estava cheia! Apesar de um atraso maior do que o aceitável, a galera não arredou o pé da fila para conseguir o melhor lugar. Infelizmente, por conta deste atraso, enquanto se abriam os portões, o Tuatha de Danann ainda passava o som.
Mas nada que desanimasse nem o público e muito menos a banda, que entrou no palco empolgada por estar de volta ao Rio de Janeiro e entusiasmada com a boa receptividade dos presentes. Com o álbum “Dawn of a New Sun”, lançado em 2015, a banda voltou à ativa e ainda mais incrementada, com a adição de violinos (executados de forma brilhante por Roger Vaz) e também a adição de uma bagpipe, ou gaita de foles, que fica a cargo de Alex Navar. O Tuatha faz um som calcado em raízes celtas, que integram o Celtic Folk Metal do grupo. Essa sonoridade permeia todas as faixas, mas músicas como “Tanpingaratan” e “Land of Youth (Tir Nan Og)” carregam essa identidade de forma mais interessante. O grupo se despede com um agradecimento carinhoso de Bruno Maia (vocal, guitarra, Flauta e bandolim) e com a ótima “Dance of the Little Ones”.
Em uma direção totalmente oposta do Tuatha, os cariocas do Massacration sobem ao palco pouco tempo depois. Numa mescla das músicas dos álbuns “Gates of Metal Fried Chicken of Death” e “Good Blood Headbanger”, músicas interessantes como “Let’s Ride to Metal Land”, “Evil Papagali” e “Metal Milkshake” se perdem frente a um show com viés de stand-up de péssimo gosto que a banda exerce no palco. A banda se coloca como paródia, mas sob essa éfigie, perpetua preconceitos, machismo e um estereótipo de “metaleiro” que, sendo eu um dos amantes do estilo, me sinto profundamente incomodado. Espero que em algum momento, a banda consiga se reinventar dentro de sua proposta e honrar a memória de Fausto Fanti de forma mais digna.
Por fim, o Angra sobe ao palco debaixo de forte ansiedade. Com a trinca “Newborn Me”, “Travelers of Time” e “Waiting Silence” já bota a galera pra bater cabeça e até abrir algumas rodas tímidas na Fundição Progresso. O som estava ótimo (um dos melhores que já vi na casa) e Fabio Lione estava super participativo com o público. O Angra é conhecido por no início da sua carreira, na era de André Mattos, inserir com bastante personalidade influências de ritmos brasileiros em suas músicas e “Nothing to Say” e seu baião e até um desenho de carreteiro de tamborim e representou bem essa característica, a única retirada do ótimo “Holy Land”, de 1996.
“Black Widow’s Web”, a música mais aclamada dos últimos tempos do grupo, por conter os vocais de Sandy (sem o Junior) e de Alissa White-Gluz, vocalista do Arch Enemy, não decepcionou. O guitarrista Rafael Bittencourt acompanhou Fabio Lione nos vocais e também cantou solo a ótima “The Bottom of my Soul”. Lione inclusive está em ótima forma, lembrando áureos tempos de Rhapsody. Músicas como “Spread Your Fire” e “Morning Star” (que foi tocada pela primeira vez desde 2006) exigem bastante do vocalista e o mesmo corresponde, senão mais do que esperado, minimamente à altura.
O bis é composto das clássicas “Rebirth” e do medley “Carry On/Nova Era”, que esgota a energia de quem tinha guardado um pouco dela até o momento. A banda se despede e o Angra, após alguns episódios negativos na carreira, demonstra a sua redenção musical e moral com um show vigoroso de uma banda ensaiada, consistente e com muita consciência do que está fazendo. Ver esse nível de profissionalismo de um dos grandes medalhões do Metal brasileiro é ótimo, pois mostra para o mundo que a nossa música importa e dá força para quem está vindo debaixo acompanhar o ritmo, batendo no peito que a gente sabe fazer Metal de qualidade e muito bem, obrigado.