O ano era 1996. Max Cavalera, Igor Cavalera, Andreas Kisser e Paulo Jr. Foram de encontro a influências brasileiras e da World Music para gravar um dos álbuns de música pesada mais relevantes do cenário brasileiro. Pela Roadrunner Records, Roots era lançado. E trazia muitas coisas interessantes, como gravações com índios Xavantes, participação de músicos como Carlinhos Brown nas músicas e produção robusta de Ross Robinson. Mesmo os fãs de velha data torcendo a cara para o álbum, é indubitável a relevância do Roots para a música brasileira e para o Nu-Metal em geral, afinal de contas, bandas como Slipknot e Limp Bizkit já falaram que o álbum foi um grande inspirador para o som desses grupos.
Vinte anos depois e com os músicos já tendo seguidos seus rumos, Max e Iggor com um G a mais no nome remontam na íntegra esse álbum tão aclamado. Trazendo consigo para essa turnê Mark Rizzo e Tony Campos, músicos que integram também outras bandas ligadas aos irmãos como Soulfly e Cavalera Conspiracy. O Imperator, uma das casas mais bem estruturadas e interessantes do Rio de Janeiro, estava cheio e muito ansioso para uma noite que iria entrar para a história. A abertura da banda Incite (banda de Richie Cavalera, enteado de Max) abriu os caminhos e deixou a pista quente.
O massacre de Max & Iggor começa com a incrível Roots Bloody Roots, cantada a plenos pulmões por todos os presentes e mais uma vez se afirmando como um clássico absoluto do Heavy Metal mundial. Logo após, Attitude não deixa o clima aquietar-se e Cut Throat e Ratamahatta chegam para encerrar a primeira parte do show de forma lancinante, incluindo Max tocando um berimbau e interagindo com o público. Começo interessante para uma noite lendária. Outras grandes músicas como Born Stubborn e Spit fazem as rodas incessantes ficarem mais intensas e o Imperator ferver com todo o calor emanado pela música e Jasco e Itsári nos levam diretamente para regiões do Centro-Oeste brasileiro embebidas em cultura indígena.
Porém, nem tudo são flores: músicas como Lookaway funcionam extremamente mal ao vivo (deve ser por isso que nunca foram tocadas antes dessa turnê), e Max apresenta uma execução de guitarra sofrível em muitas partes do show. É visível que a disposição do músico não é a mesma. Veja bem, não estou pedindo pra depois de trinta anos o dito cujo continuar intacto pelo tempo, mas a descida de rendimento do mesmo está latente e atrapalhando um pouco a qualidade do conjunto da obra, e se tratando de uma irretocável não podemos deixar despercebido. Ingressos de show hoje não são mais acessíveis à todo mundo e ninguém quer pagar para ver um show entregue com falhas abusivas.
As músicas tocadas por fora do álbum foram War Pigs (Black Sabbath), Procreation (Of The Wicked) que é um cover de Celtic Frost presente na versão estendida do álbum, um medley incrível de Desperate Cry, Inner Self, Polícia e Orgasmatron, Ace Of Spades (Motorhead) e uma nova versão de Roots Bloody Roots (??) um pouco mais rápida. Ao fim da noite, a dispersão é fácil e rápida, afinal o Imperator é uma casa que permite que não haja maiores problemas na hora da saída nem da entrada.
A união de Max e Iggor para executar um dos álbuns mais relevantes da música pesada internacional é justa e é a representatividade viva de uma lenda, porém, alguns detalhes devem ser observados e se possível ajustados para representar com mais devoção e a meticulosidade necessária que o registro pede.
Set List /// Return To Roots
Imperator, Rio de Janeiro
14 de dezembro de 2016
Roots Bloody Roots
Attitude
Cut-Throat
Ratamahatta
Breed Apart
Straighthate
Spit
Lookaway
Dusted
Born Stubborn
Itsári
Ambush
Endangered Species
Dictatorshit
War Pigs
Procreation (Of The Wicked)
Medley
Ace Of Spades
Roots Bloody Roots (Fast version)
Fotos: Daniel Croce